domingo, 29 de abril de 2012

Redimidos

Por Luís Fernando Veríssimo - "O Globo" - 29 de abril 2012.

Quando o grampo telefônico e a mini-câmera escondida ainda não eram instrumentos de denúncia e moralização, o político corrupto podia contar com uma certa tolerância tácita dos seus pares e do público. Mesmo quando não havia dúvidas quanto à sua corrupção, havia a disposição de perdoá-lo, até de folclorizá-lo – e o político que roubava mas fazia tinha o privilégio do artista, de ser um canalha em particular se sua obra o redimisse. Uma única gravura do Picasso absolve uma vida de mau caráter. A obra do Marquês de Sade é estudada com a mesma isenção moral dedicada à obra de Santo Agostinho – que nem sempre foi santo – e ninguém quer saber se o escritor engana o fisco ou bate na mãe se seus livros são bons. Ou querer saber, queremos, mas só pelo valor de fuxico. A absolvição custa um pouco mais quando o pecado do artista é o da ideologia errada. Pois se se admitia no político a perversão privada do artista, a única inconveniência intolerável no artista era a incorreção política. Assim um Louis-Ferdinand Céline e um Wilson Simonal tiveram que esperar a remissão que o tempo acabou dando a Kipling, Claudel, Nelson Rodrigues, Jean Genet, etc. Mas a receberam.


O político que declaradamente roubava mas se redimia fazendo tinha um pouco desta imunidade de artista. Sua obra justificava seus pecados, quando não era uma decorrência deles. Todo o sistema de conveniências e deixa-pra-laismo que domina o Congresso brasileiro e que está sendo testado agora presume a mesma desconexão entre moral privada e moral aparente. A cultura do clientelismo, onde o suposto proveito político substitui a ética, está baseado nela. O que causou a atual revolta contra a roubalheira e a tolerância com a corrupção no Brasil, além das modernas técnicas de averiguação, é a constatação crescente de que aqui não se tem nem a ética nem o proveito, rouba-se para poucos e não se faz para a maioria. Em cleptocracias mais avançadas a obra dos artistas do desenvolvimento, todos bandidos, redimiu-os. Empresários corruptores e políticos corruptos fizeram dos Estados Unidos, por exemplo, o que eles são hoje. O capitalismo selvagem americano domou a si mesmo depois de construir um país, ou controlou-se razoavelmente, mas nos seus tempos desinibidos escandalizaria até o Cachoeira. Aqui tem-se o crime mas ainda não se tem o país.

PALAVRAS AVULSAS

O “rude e doloroso” idioma de Bilac é falado por mais gente do que o francês, mas temos razões para nos queixar da sua relativa obscuridade. Ao contrário da Espanha, que perdeu seu império americano mas deixou um imenso mercado para o García Márquez e o Vargas Llosa, Portugal não foi muito pródigo com a sua língua. Seus navegadores, catequizadores e comerciantes apenas largaram palavras avulsas pelos caminhos da sua exploração do mundo, como pepitas raras. Até hoje na Costa Ocidental da África usam a palavra “dash” para gorjeta. Vem do português “deixar”, como em “Vou deixar uns trocados para você, ó mameluco!”. No Japão, o prato de camarão com legumes fritos chamado “tempura” tem este nome por causa dos portugueses que só comiam peixe durante os “Quattuor Tempora”, ou Quatro Tempos, de cinzas e contrição, do ano litúrgico. O “mandarim” chinês vem de “mandar” mesmo, combinada com o sânscrito “mantrin”, ou conselheiro. Algumas palavras portuguesas andaram pelo mundo e voltaram com seu sentido mudado. “Casta”, substantivo, camada social, vem do português “casta”, adjetivo. “Fetishe” começou a vida como feitiço. E o “joss” do chinês pidgin, significando ídolo, é uma corruptela do “Deus” chiado dos portugueses.

Enfim, não é muito mas é nosso.

A rapina da tecnologia na educação

Por Elio Gaspari - "O Globo" - 29 de abril de 2012.

Com vocês, Delúbio Soares 2.0. A Polícia Federal achou-o no restaurante 14 Bis, no Rio, discutindo o fornecimento de lousas digitais para escolas públicas capixabas e goianas. Segundo o empresário interessado, o companheiros disse-lhe que "um pedido do meu deputado é praticamente uma ordem". Referia-se ao deputado estadual Misael Oliveira (PDT-GO).


Desde que o homo sapiens grafitou a caverna de Altamira, há 15 mil anos, repete-se o costume de usar uma pedra (giz) para desenhar ou, mais tarde, escrever, numa superfície rígida. Desde o século 11 isso é feito em escolas. Os quadros-negros custam pouco, não enguiçam, não consomem energia nem precisam de manutenção.

As lousas digitais, cinematográficas, interativas e coloridas, tornaram-se parte de uma praga estimulada por fornecedores de equipamentos eletrônicos para a rede pública de ensino. Cada uma custa pelo menos o salário-base de um professor (R$ 1.451). Um dos municípios que contrataram lousas da empresa que tratou com Delúbio foi o de Presidente Kennedy (ES). Gastou R$ 2,7 milhões em três escolas, e o endereço da fornecedora era um terreno baldio. O prefeito e seis secretários, inclusive a de Educação, foram presos. Com os royalties da Petrobras, Presidente Kennedy tem uma das maiores rendas per capita do Estado e um dos piores índices de desenvolvimento humano.

O pequeno município não está sozinho nessa febre. O MEC quer comprar 600 mil tablets para que professores preparem suas aulas (como, não diz). Isso e mais 10 mil lousas digitais. O governo de São Paulo estuda um investimento de R$ 5,5 bilhões para colocar lousas e tabuletas em todas as escolas públicas. Gustavo Ioschpe foi atrás da ideia e descobriu que a Secretaria de Educação não tinha um projeto pedagógico que amparasse a iniciativa. Toda a documentação disponível resumia-se a uma carta do presidente da Dell (fornecedor do equipamento), com um resumo de um estudo da Unesco. Pediu o texto, mas não o obteve.

Lousas digitais, tabuletas e laptops são instrumentos do progresso quando fazem parte de uma ação integrada, na qual tudo começa pela capacitação do professor. Hoje, no Brasil, contam-se nos dedos as experiências bem sucedidas na rede pública. Prevalecem desperdícios que poderiam ser evitados pela aplicação da Lei de Simonsen: "Pague-se a comissão, desde que o intermediário esqueça o assunto".

Quem acredita que Delúbio Soares estava interessado no aprendizado da garotada de Presidente Kennedy vá em frente.



domingo, 22 de abril de 2012

Nenhuma das respostas abaixo


Fonte: http://oglobo.globo.com/emprego/erro-de-portugues-em-questoes-de-concurso-problema-que-se-repete-4707398#ixzz1soHygtTN

Erro de português em questões de concurso: problema que se repete


O tema ganhou destaque depois que um dos enunciados da prova para diplomata do Instituto Rio Branco veio com a palavra "exige" grafada como "exije"

Tudo bem que errar é humano e qualquer um pode se confundir com o português. Mas, quando estamos falando de enunciados e questões de provas de concursos públicos, maltratar a língua é imperdoável. Afinal, como cobrar que os candidatos acertem tudo se nem mesmo as bancas são capazes de fazê-lo?

O problema ganhou destaque depois que um dos enunciados da prova para diplomata do Instituto Rio Branco, cargo dos mais desejados do país, aplicada no dia 25 de março, veio com a palavra "exige" grafada como "exije". Um erro que, em princípio, não compromete a compreensão da questão, mas que desestabiliza o candidato e afeta a credibilidade das bancas e dos órgãos que promovem o processo de seleção.

— É claro que erros podem acontecer. Mas quando um aluno de alto padrão, que está concorrendo a um cargo para a área de diplomacia, se depara com um erro de ortografia, é natural que perca a confiança na avaliação. O processo de revisão não deveria deixar passar isso — avalia Marcelo Portella, professor de português do Curso Maxx, preparatório para concursos.

O Boa Chance foi atrás de outros exemplos de equívocos desse tipo e descobriu que não é em toda prova que eles aparecem, mas que são, sim, mais frequentes do que se pensa — e ainda se juntam a problemas mais recorrentes como falta de palavras, divergências de interpretação e enunciados com mais de uma resposta.

No concurso público para agente fiscal da Receita Municipal de Porto Alegre, organizado pela FMP Concursos e cujas provas ocorreram entre 18 de março e 1 de abril deste ano, há dois casos que não passam batidos pelo olhar mais atento: "admimistração", logo na primeira página do exame, em vez de "administração", e falta de concordância em "pagamento mensais".

— Primeiro eu me assusto e leio novamente a questão, não querendo acreditar que a banca possa ter cometido um erro tão grosseiro. Quando constato que está realmente errado, fico muito chateada, pois parece que a banca não está levando a prova a sério e a elaborou de qualquer jeito. Perco totalmente a confiança na banca — afirma a candidata Michele Zanettin. — Fora que isso desconcentra a gente e, muito importante, nos faz perder tempo, sendo que o tempo já é pouco para responder a tantas questões.

No caso do certame do Sul, os termos escritos de forma incorreta não afetavam a interpretação. Mas e quando o próprio vocábulo cujo significado está sendo perguntado vem escrito errado? Aconteceu em uma prova para a Petrobras, em 2008, elaborada pela Fundação Cesgranrio. A pergunta era: "A senhoragem é (são) a (os)...". Sendo que a expressão correta, que, no universo da economia designa a diferença entre o valor real e o nominal da moeda, é "senhoriagem".

A falta da letra "i" pode confundir um candidato, assim como a ausência de um acento. Entre "público" e "publico" a diferença vai além do acento agudo e chega ao significado. O engano foi da prova para o Sebrae/PA, organizada pela Funrio em 2010. No mesmo teste, outro erro: o esquecimento de um acento indicativo de crase em "conceder incentivos fiscais as MPEs" (e não às MPEs).

— Os erros de natureza sintática, como os de acentuação, estão entre os mais frequentes — destaca Marcelo Portella.

A prova para a prefeitura de Camocim, no Ceará, organizada pela Consep este ano, passou dos limites: continha várias letras faltando, erros ortográficos e frases como "ter boas práticas de higiene são fundamentais", em vez de "é fundamental".

Adriana Figueiredo, professora do Canal dos Concursos, ressalta que bancas menores estão mais sujeitas a esses problemas:

— Elas têm estrutura menor, menos gente para fazer revisão.

Erros não costumam suscitar anulação

"Intelegibilidade" e não inteligibilidade; "contra-cheque" em vez de contracheque; "maior clareza" e não mais clareza; "extingüir" com trema; "à partir" e não "a partir"; e até "serveja" em vez de cerveja. São alguns dos exemplos de erros lembrados pelos professores de cursos preparatórios e por candidatos. Mas, na maioria dos casos, esse tipo de engano não motiva a anulação da questão.

— Não cabe entrar com recurso por causa de erro ortográfico, embora isso acabe maculando a imagem da banca — acredita Adriana Figueiredo, professora de português do Canal dos Concursos.

A maioria dos especialistas acha que as questões não devem ser invalidadas quando o erro de português não prejudica o entendimento da questão. Isso porque a anulação costuma causar mais prejuízos.

Cespe/UnB diz que falha aconteceu na revisão

— Uma questão anulada pode alterar a classificação de 300 a 400 pessoas, o que é muita coisa. Por isso, minimizar o erro é menos prejudicial do que solicitar a anulação — opina Marcelo Portella, professor do Curso Maxx.

A Fundação Cesgranrio, por meio de nota enviada por sua assessoria de imprensa, afirma que "quando um eventual erro interfere na compreensão da questão, a Fundação Cesgranrio anula a questão" e que "a elaboração das provas envolve um grande número de passos, que inclui, naturalmente, revisão gramatical. No entanto, em concursos em que são oferecidos muitos cargos, são elaboradas, muitas vezes, mais de quatro mil questões e, uma vez ou outra, infelizmente, poderá passar um erro de digitação".

Adriana Campiti, professora de português do Curso Clio, especializado na preparação para o concurso do Instituto Rio Branco diz que o Cespe/UnB, que organiza o concurso para o cargo de diplomata, tradicionalmente costuma invalidar questões com erros de português. No caso do "exije" em vez de "exige", porém, não houve anulação. Por meio de nota, o Cespe/UnB afirma que "O problema na questão citada ocorreu na última etapa de revisão quando uma banca revisora desejou alterar a palavra grafada como ‘exija’ para a forma ‘exige’, trocando apenas a letra ‘A’ pela letra ‘E’".

A nota diz ainda que a banca optou por não anular a questão porque "entendeu que o erro material encontrado na prova não acarretou prejuízo à compreensão e à determinação do correto gabarito do item. Além desse aspecto, ao se manter o item no conjunto de itens válidos da prova, preservou-se (sic) as condições de avaliação dos candidatos mais preparados para o cargo em análise".

Procuradas pelo Boa Chance, as organizadoras FMP Concursos e Funrio optaram por não se manifestar. Já a Consep não havia dado retorno até o fechamento da reportagem.

Na opinião dos professores, na maioria dos casos, os erros refletem falta de organização.

— É necessário ampliar as revisões e elaborar as provas com mais antecedência, o que permite que elas sejam vistas e revistas com mais calma — avalia Adriana Campiti.

E apesar de o número de problemas ser alto para o padrão que se espera de um concurso público, o cenário é melhor do que há alguns anos:

— Hoje os concursos são feitos por organizações sem vínculos com a repartição pública. Antes, as cartas eram marcadas e a credibilidade, muito menor — ressalta Marcelo Portella. — Nunca tivemos tantos escândalos como nos últimos dez anos. Mas eles refletem as denúncias e o acompanhamento sistemático do Ministério Público, o que é uma vitória.







Fonte: http://oglobo.globo.com/emprego/erro-de-portugues-em-questoes-de-concurso-problema-que-se-repete-4707398#ixzz1soIHOfO4


quarta-feira, 11 de abril de 2012

Ô Raça!

Por Joaquim Ferreira dos Santos - "Segundo Caderno - O Globo" - 12/03/2012

Somos todos iguais nos pescoções noite adentro, aqui na Lapa como em Londres, e o melhor exemplo da tragicomédia do dia a dia das redações, das matérias furadas que a chefia insiste em pautar, é o livro “Os imperfeccionistas”, escrito pelo inglês Tom Rachman.


Ele é o lead do momento, é o sub-lead do verão e o romance de cabeceira dos jornalistas brasileiros, ou pelo menos daqueles que ainda preferem ler um livro a se cutucar ou se compartilhar no Facebook.

Numa das cenas, o chefe da redação se vê diante de um texto no qual o repórter, a fim de demonstrar estilo, diz ter um cidadão “literalmente” morrido de susto.

O velho homem de imprensa, no esforço de melhorar o jornal, a cada dia envia para a redação verbetes com proibições de novas palavras malditas, e, é claro, acrescenta “literalmente” à sua Bíblia de vetos.

“Se alguém morreu literalmente de susto o fato deveria ter ido para a primeira página.” Tom Rachman foi correspondente da Associated Press, editor do “International Herald Tribune” e, antes de cair fora da ralação sem fim atrás de fontes que sequer são murmurantes, prestou muita atenção nas figuras em torno dos aquários, da máquina de café e do mesão do copidesque. Tem o redator do obituário que vira editor do caderno de cultura, o free-lancer que inventa uma tropa francesa na Faixa de Gaza para vender a matéria e também uma redatora que, de sacanagem, para boicotar a chefia, substitui numa matéria sobre a guerra do Iraque o ditador Saddam Hussein por Satã Hussein.

As erratas, o ajoelhar sobre o milho que o jornalista faz em público, não param de manchar a credibilidade do jornal. A cada erro, identificado o repórter ou redator, é mais um profissional ao RH, mais uma vaga que não será preenchida, pois a crise grassa. Os leitores estão se debandando para sites de informação grátis ou com a tela piscando algum pedido de interatividade.

Tom Rachman passou por aqui. Deu plantão no réveillon, teve a cadeira roubada por algum colega da editoria ao lado, participou de coberturas furadas o suficiente para entender que, muitas vezes, “notícia é uma forma educada de dizer ‘capricho dos editores’”. O livro é quase um ajuste de contas, muito bem-humorado e inteligente, com o que deve ter sofrido no passado, pois os jornalistas desta redação por onde ele cruza suas histórias são quase sempre tomados por algum tipo de esquisitice. Um não quer nada com o batente e afugenta possíveis trabalhos folheando uma pasta de papéis, enquanto murmura “planejamento, planejamento”, mantra que julga espantar jornalistas.

Os cínicos estão por todas as editorias. Diante de um ex-namorado, que classifica de sórdido um jogo que ela propõe, a editora diz: “Por isso eu sou jornalista, não sei diferenciar o sórdido do interessante”. A propósito, a mesma jornalista justifica para o marido a ausência de notícias sobre a África com o argumento de que é preciso morrer 20 naquele continente para equivaler ao destaque da notícia de um morto europeu. Os jornalistas estão nus, e não é para fazer sexo, porque quando chegam à casa estão cansados demais para mais esta pauta. “Os imperfeccionistas” passa ao largo da lembrança de que em algum momento os bravos homens de imprensa foram heroicos em enfrentar perigos, baixos salários ou sistemas lentos de internet para informar o mundo do desmando dos poderosos.

Uma das definições de jornalista no livro: “São tão melindrosos quanto artistas de cabaré e tão teimosos quanto operários” — de um novo editor-chefe depois de convencer a redação a transformar aquele jornal político, de prestígio, mas cada vez com menos leitores, num tabloide inglês com umas gostosas nuas na primeira página.

Jornalistas são seres sensíveis, gostam quando são chamados de “o quarto poder”. Em “Os imperfeccionistas”, sem rancor, evitase elogio. O que interessa é o desmonte, com estilo, da pose de super-heróis. Todo dia, os colunistas pedem notícias, repórteres desconhecem os assuntos para os quais são pautados ou o editor abre um e-mail do chefe da oficina dizendo quanto custa um minuto por atraso no fechamento do jornal. Nem o Pullitzer nem o Esso. São obrigados a fazer matérias humanas sobre o homem comum e penam para tirar declarações incomuns deles.

Na redação de Tom Rachman, olhados de perto como poucas vezes na literatura, os jornalistas são uma raça risível. A editora namora o assessor do político criticado todo dia na manchete do jornal, a redatora se veste com as mesmas roupas de quando começou no cargo, 20 anos atrás, e passa a mão trêmula sobre os cabelos como se para expelir aranhas. Principalmente, estão todos, o tempo todo, querendo derrubar o colega ou enrolar uma fonte:

“Boa reportagem e bom comportamento não são compatíveis”, é como uma correspondente justifica os maus modos da turma.

“Os imperfeccionistas” é um livro delicioso sobre um dos esportes mais praticados no mundo inteiro, o de falar mal de jornalistas. Tom Rachman, como se cobrasse a conta do café ruim que tomou para suportar mais uma matéria sobre a explosão de um gasoduto na Nigéria, faz um perfil cruel do que viu nas redações. “Detonação mata pessoas de novo”, diz o título ridículo de uma matéria. Seu humor inglês não esqueceu sequer do leitor assíduo ameaçando cortar a assinatura. Sobrou para todos nós.

É uma obra de ficção, mas lá estão, com final melancólico para os jornais, a luta de hoje com o noticiário on-line e a tentativa das empresas de comunicação em monetizá-lo — um verbo que neste momento vai direto para a Bíblia das palavras vetadas em qualquer texto e que o livro de Tom Rachman, o fino da boa literatura moderna, evidentemente não emprega.

domingo, 8 de abril de 2012

Em nosso nome

Por Míriam Leitão - "O Globo" - Caderno Economia - 07/04/2012

É tão asqueroso que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) absolva um homem acusado de estupro de três meninas de 12 anos com o argumento que elas se “prostituíam” que tentei evitar o assunto. Nós nos acostumamos a ver abusos assim pela Justiça de países distantes, como no Afeganistão, onde uma mulher foi presa pelo delito de ter sido estuprada. Esse ato nos igualou aos piores países para as mulheres.
Estupro é estupro senhores ministros e senhoras ministras do STJ. Isso é crime. Sexo de adultos com menores é crime. Nesse caso, há os dois componentes de uma perversidade. Quando um tribunal “superior” aceita atos tão inaceitáveis é o país como um todo que se apequena.
Há momentos em que não reconhecemos o país em que vivemos. Este é um deles. Não reconheço nesta decisão o país que aprovou a Lei Maria da Penha criminalizando a violência dita “doméstica”. Não reconheço aí o país em que governo e ONGs, sociedade e imprensa, se uniram num pacto não escrito contra a exploração sexual infantil. Não reconheço o país que aprovou o Estatuto da Criança e do Adolescente e o preservou contra todas as críticas. Não reconheço o país que instalou, em inúmeras cidades, delegacias da mulher, nas quais, com a ajuda de psicólogos e policiais, a vítima tem sido ajudada no doloroso processo de falar sobre a humilhação vivida.
O argumento de que elas se prostituíam, e, portanto, o réu pode ser absolvido, é preconceituoso. A prostituta mesmo adulta não pode ser forçada ao que não aceitou. Meninas que se prostituem aos 12 anos comprovam que o país errou, a sociedade não as protegeu, as escolas não as acolheram, o Estado fracassou. É uma falha coletiva e não apenas das famílias. Elas são vítimas por terem se prostituído, são vítimas porque foram violentadas, são vítimas porque um tribunal superior deu licença ao criminoso.
O Brasil está sendo condenado internacionalmente. Na quinta-feira, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos criticou o Brasil por estar “revogando” os direitos humanos das menores. Merecemos o opróbrio.
Não foi uma decisão impensada. Foi a confirmação pela Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça da decisão tomada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, que confirmava a sentença de um juiz. Era a terceira instância. No voto, a relatora ministra Maria Thereza de Assis Moura diz que as vítimas não eram “ingênuas, inocentes, inconscientes a respeito de sexo”.
Diante da repercussão nacional e internacional do assunto, o STJ, na quinta-feira, soltou uma nota dizendo que a decisão “não institucionaliza a prostituição infantil”. Pois parece. Por mais que em jurisdiquês se tente minimizar ou relativizar a decisão, em algum momento na frente, algum juiz, ou tribunal, recorrerá a este caso como jurisprudência. No nota, o STJ diz que não aceita as críticas que “avançam para além do debate esclarecido sobre questões jurídicas, atacam de forma leviana a instituição, seus membros, sua atuação jurisdicional”.
Que debate “esclarecido sobre questões jurídicas” poderia justificar tal disparate? Uma sociedade civilizada que sabe que é responsável pela proteção de pessoa vulnerável, que reconhece a violência que desde sempre se abate sobre mulheres, que combate a pedofilia, não pode aceitar uma decisão como esta. Perder-se em questiúnculas jurídicas é o caminho mais rápido para não ver a dimensão da escolha que está sendo tomada em nome da sociedade brasileira. Eu, brasileira, confesso, me envergonho dela.
Como hoje é dia do jornalista, quero comentar nesse espaço outra decisão — com nenhuma relação com o caso acima — que foi tomada em nome da sociedade. Desta também me envergonho. O Brasil ficou contra um plano de ação da ONU contra mortes de jornalistas. O projeto era criar um sistema de vigilância e alerta para os profissionais em risco.
É óbvio que é preciso proteger os jornalistas que acabam morrendo em conflitos nos quais estão registrando os fatos. Há outras circunstâncias, mesmo quando não há um conflito, em que o jornalista vira vítima por incomodar alguém, ou um grupo, com o que noticia. O Brasil se juntou à Índia e ao Paquistão para derrotar a aprovação do plano de ação da ONU.
A notícia foi divulgada na semana passada, mas tomada numa reunião do dia 22 e 23 de março, em Paris. Como os três países não deram seu apoio imediato, a implantação do programa de proteção aos jornalistas ficou para 2013. Quase mil jornalistas foram mortos nos últimos 20 anos.
O Itamaraty costuma embrulhar decisões equivocadas em tortuoso diplomatês. Afirma que não discorda do mérito, mas da forma que foi negociado, ou de alguma vírgula, ou de algum termo. Nesse caso, disse que não é contra o plano para proteger jornalistas, apenas não concordou com certas palavras e expressões usadas no texto. Que os diplomatas então tirem a dúvida durante o processo de negociação, que saibam separar o essencial do supérfluo e que escolham o que parece natural.
O país no qual comecei a exercer a profissão tinha censura à imprensa e jornalistas podiam morrer sob tortura por discordar do regime. Hoje, felizmente, isso é passado. Exatamente pelo avanço das últimas décadas, o Brasil tem que estar ao lado de países que querem dar mais — e não menos — proteção aos jornalistas.
Os dois casos estão em esferas diferentes, mas neles se vê o mesmo erro. Autoridades se perderam em firulas — jurídicas, num caso; diplomáticas, no outro — e não viram toda a dimensão da decisão que tomaram em nome dos brasileiros.

GERAÇÃO 60 - UMA GERAÇÃO MENTIROSA E TRAIDORA

É um artigo extenso, porém verdadeiro . Vale a pena ler


DESABAFOS SENSATOS

GERAÇÃO 60 - UMA GERAÇÃO MENTIROSA E TRAIDORA

Por JB Xavier

Começo exaltando as exceções do título deste artigo. São Poucas, mas existem. A elas o meu respeito.

O fato é que estou cansado. Cansado e desanimado. Muito desanimado. Já não sei mais o que dizer aos meus filhos. Eles estão na casa dos 30 anos. Eu? tenho quase sessenta. Eles sempre me admiraram, e à minha geração, pelo que ela significou para as mudanças ocorridas no Brasil. E o que ela significou realmente?

Eis uma pergunta que me faço há pelo menos uns 20 anos, tão logo comecei a me sentir traído por ela! Por me sentir assim, já escrevi o artigo.

Carta à Minha Geração

Eu gostaria de ter escrito este artigo ainda na década de sessenta, quando eu era voz vencida entre os estudantes de meu colégio, onde eu ocupava o perigoso cargo de Presidente do Gremio Estudantil Henrique Fontes, no Colégio Normal Gov. Celso Ramos, em Joinville, Santa Catarina. Idem, mais tarde, na faculdade. Eu queria ter escrito este artigo há época, e o teria feito, mas por outras razões, muito diversas daquelas que me levaram a escrevê-lo agora.

Se eu tivesse escrito este artigo na década de 60, eu teria sido linchado não pelo exército, mas pelos meus pares, que me considerariam traidor da causa! Sim, porque se o exército não fez carinho nos revolucionários, estes por sua vez não eram nenhum anjinhos, e os exemplos estão aí, com Celso Daniel etc...

Quanto às torturas, prisões etc...apesar de terem sido cruéis e desnecessárias, eram previsíveis. Nenhuma guerra se faz atirando rosas no inimigo. Tanto da parte dos revolucionários quanto da parte do exército. Vide as ações armadas de nossa atual Presidente.

Na verdade, quem queria trabalhar - e progredir - em paz, como eu, não foi molestado em nenhum momento pela ditadura militar. Trabalhei, estudei, casei, progredi e tive meus filhos sem nunca ter tido o menor problemas com os milicos.

Problemas sim, com a ditadura, tiveram os que não conseguiam seguir as regras do jogo da competição sadia, ou por incompetência, ou por desejo de enriquecimento rápido. E qual é o caminho mais rápido para isso? Desfazer o jogo e criar outro, com suas próprias regras - geralmente exclusivas e desonestas. É o que temos hoje! E foi aí, que, há época, o exército disse Não!

Mas o fato é que, apesar de tudo, não posso morrer sem escrever este artigo, para que permaneça fiel às minhas idéias e me posicione de vez no lugar onde sempre desejei estar: Ao lado da modernidade, do progresso pessoal e intelectual, da meritocracia e dos princípios básicos da verdade.

Porque não escrevi antes? Porque a estupidez e a imbecilidade coletiva das décadas de 60, 70 e 80, motivada por uma lavagem cerebral coletiva dos jovens de minha geração, orquestrada pelos países totalitários e lideradas por artistas "esclarecidos" e pseudo-intelectuais brasileiros, levou minha geração a uma histeria sem precedentes que a tornou cega e surda, mas não muda!

Meus filhos, quando adolescentes, admiravam as mudanças conseguidas pela sociedade brasileira, em sua resistência ao regime militar. Como eles não tinham vivenciado o "antes" e o "durante", deixei-os se deliciarem com o "depois", não sem certo orgulho por ter pertencido a uma época única da história brasileira.

E por que eu não me deixei contagiar por essa lavagem cerebral? Simples! Eu me lembro que eu era o único que queria aprender francês, nas aulas deste idioma - sim, porque aprendíamos francês nos dois primeiros anos do curso chamado ginasial, há época. Nos dois últimos e nos três anos do colegial, aprendíamos inglês, que tampouco ninguém, exceto eu e uns poucos, tinha interesse.

Por que estou dizendo isto? Acreditem não é para jogar confete sobre eu mesmo, nem para parecer ter uma inteligência privilegiada, que sei que não tenho. É apenas para lhes dizer que eu queria ler em outros idiomas o que estava acontecendo fora do Brasil. E quando eu pude ler com desenvoltura o "Le Monde" e "TIME", comecei a enxergar o outro lado do discurso popular da "resistência" brasileira. Pude ver que tudo não passava de uma fraude monumental, orquestrada por países da Cortina de Ferro interessados em abocanhar poder na então ultra sub-desenvolvida América Latina, como já haviam feito na Europa do Leste e Cuba. Pude ver então que o tão valente caudilho que desceu a Sierra Maestra para salvar Cuba do corrupto Fulgencio Batista, acabou por se render ao dinheiro fácil, e por quatro bilhões de dólares anuais, alugou o território cubano para que a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas instalasse seus mísseis quase no quintal dos americanos.

No Brasil sempre se achou que Fidel Castro foi um herói. Bulhufas! Até seu discurso de guerrilheiro era uma farsa! Ele disse "Desenvolvemos uma guerra de movimento, de atacar e retirar-se. Surpreendê-los. Atacar e atacar. Desenvolvemos a arte de confundir as forças adversárias, para obrigá-las a fazer o que queríamos. E muita arma psicológica", disse Fidel sobre a guerrilha.

Isto saiu, há época nos jornais europeus e americanos, mas quem, no Brasil, há época, além dos intelectuais interessados em tomar o poder, como fez Fidel, e alguns artistas cretinos desejosos de mamar em suas tetas, sabia inglês? Ninguém! Então rezava-se pela cartilha desses hipócritas que hoje estão no poder.

Ora, a técnica de guerrilha descrita por Fidel, foi uma das duas únicas e estúpidas invenções de Mao Tsé Tung, que revolucionou o que se sabia até então sobre guerra, descrita por sua máxima: "O inimigo avança, recuamos. O inimigo cansa, provocamos. O inimigo acampa, fustigamos. O inimigo se retira, perseguimos." A outra invenção foi lançar a moda de queimar montanhas de livros em praças públicas!

Invenções, vírgula, porque Mao, também um mentiroso retrógrado empedernido, que conseguiu fazer a China retornar à escuridão da ignorância medieval, apropriou-se deste conceito de guerrilha que foi, na verdade escrito no século IV a.C. pelo estrategista militar Sun Tzu, em seu livro famoso A Arte da Guerra, que tanto sucesso faz entre nós hoje em dia. Aliás outros déspotas famosos fizeram o mesmo, como Gengis Khan e Napoleão, só para ficarmos com dois dos mais conhecidos.

Quem lia inglês, há época ficou sabendo que foi o jornalista Herbert Matthews, do "New York Times", que apresentou Fidel aos Estados Unidos e ao mundo, após entrevistá-lo em Cuba.

E um detalhe, o ataque de Fidel aos quartéis de Moncada, na cidade de Santiago de Cuba, fracassou. Fidel foi preso, julgado e condenado a 15 anos de prisão. Quem se informava há época ficou sabendo que em 1955, Fidel foi anistiado por Batista e, clandestinamente, montou o Movimento 26 de Julho. Em 7 de julho, ele partiu em exílio para o México, onde conheceu o argentino Che Guevara e organizou o embrião da guerrilha.

Um anistiado que se voltou contra o anistiador - uma fórmula seguida à risca pelos "revolucionários" brasileiros da geração 60, ainda que os anistiadores brasileiros nem de longe se comparem, em crueldade, a Fidel.

Por que estou narrando esses fatos? Porque este homem foi - e ainda é - considerado pelos governantes brasileiros, uma espécie de "mentor revolucionário", quando o que realmente fez foi - quem já foi a Cuba sabe - transformar seu país num enclave miserável, onde impera a prostituição e a corrupção, com padrões de pobreza próximos aos do Chade. Isto num dos locais mais bonitos do globo!

Basta ver com que países o Brasil está alinhado hoje: Irã, Venezuela e Cuba, só para citar alguns. É para rir ou para chorar?

Concordo, Fulgencio Batista não era flor que se cheirasse. Ele instaurou um regime autoritário, prendeu seus opositores e restringiu as liberdades através do controle da imprensa, da universidade e do congresso, usando métodos terroristas e fazendo fortuna para si e para seus aliados.

Pergunto: Por que Fidel Castro não arrumou a bagunça deixada por Fulgêncio Batista e devolveu o poder aos civis, como fez o Exército Brasileiro? Por que ele se transformou num ditador sanguinário, talvez pior que Batista?

Em seu bunker com certeza não falta papel higiênico e sabonetes, que é uma das moedas de troca de todo turista que visita a parte pobre de Cuba. Sim, porque existe uma Cuba para ricos - uma península literalmente "para inglês ver" com hotéis maravilhosos e infra-estrutura de primeiro mundo!

Quem defende Fidel que explique por que tanta gente arrisca a vida em embarcações precárias, num mar infestado de tubarões para fugir do país? Estarão loucos? Arriscar a vida para fugir do paraíso?

Já pensaram se o último dos "ditadores" brasileiros, o General Figueiredo, resolvesse permanecer no poder, como fez recentemente Ghadafi?

Pergunto mais: Quais países onde o poder foi tomado por golpes militares, tiveram o poder devolvido democraticamente aos civis? Cuba? Egito? Líbia? Síria? Coréia? Chile? Bolívia? Rússia? Irã? China? Venezuela? Iraque?

E ainda mais ridículo: qual desses países indenizou os vencidos, como faz o Brasil até hoje, quase trinta anos após o fim da ditadura, mantendo insepulto esse cadáver da "ditadura militar" apenas para continuar sugando as milionáriass indenizações que até gente acima de qualquer suspeita, como Ziraldo - o do Pasquim - recebeu?

O único dos políticos que não aceitou a indenização foi Mario Covas. Ele disse certa vez: "Eu lutei uma revolução. E venci. Como posso indenizar eu mesmo por uma vitória?"

Infelizmente, tão logo morreu, sua esposa e filhos receberam a indenização, descontados os devidos numerários advocatícios, claro, curiosamente defendida por um advogado manjado, que um dia conseguiu retirar Lula de sua detenção no DOPS.

Para se ter uma ideia, desde a década de 80, trinta e três regimes militares perderam o poder para regimes civis, mas mergulhados em sangue e com muitos deles caminhando para novas ditaduras.

E não me venham com essa história de que foi a militância que derrubou a ditadura militar brasileira! A tão propalada militância, um movimento incipente, acanhado e mal organizado, restrito praticamente apenas a algumas das grandes cidades brasileiras. Os militares sempre disseram que devolveriam o poder aos civis quando tivessem erradicado os comunistas de nossas fronteiras. E foi o que fizeram.

Sorte a nossa que nenhum dos cinco generais que administraram o Brasil gostava mais do poder que da caserna!

Quem viveu aquela realidade sabe que o General João Batista Figueiredo assumiu já com essa missão declarada: Preparar a transição para o governo civil. Levou cinco longos anos para isso, e ao final do seu mandato, estava visivelmente impaciente para passar ao anonimato, como ele próprio declarou. Para isto, anistiou a maioria dos revolucionários no exílio, e aí, sim, errou, porque trouxe de volta ao cesto, as maçãs podres, que hoje estão se lambuzando no dinheiro público - também uma forma de ditadura, exercida pelo poder do voto de cabresto, num país de semi-analfabetos, ou como diz o IBGE, de "analfabetos funcionais".

Claro, considero que o leitor tem discernimento para considerar que quando falo em "maçãs podres" naturalmente havia exceções, como Mário Covas, por exemplo, e alguns outros.

A redemocratização do Brasil, começou já com uma farsa. Quem não se recorda do quase cadáver Tancredo Neves sendo mantido sentado sabe-se lá como para exibição à imprensa? Esperidião era para ser seu vice, mas tinha pretenções próprias ao Planalto, e perdeu o bonde da história para o Marimbondo de Fogo(*), José Sarney.

E o que fizeram os "grandes revolucionários" anistiados, as grandes cabeças cheias de boas intenções com o Brasil, que batiam no peito, dizendo que foram torturados e trocaram tiros pelas ruas?

Brizola arrebentou o Rio de Janeiro, Sarney faz o Maranhão não só não progredir, como consegue a proeza de fazê-lo andar para trás. Quércia e Cia. quebraram o Banespa, o 2º maior banco brasileiro, a VASP, uma tradidional companhia aérea, e só não quebraram o Estado de São Paulo, porque este Estado resistiu, pelo poder econômico que tem. Mas conseguiram deixá-lo de joelhos. Covas precisou de quase um ano apenas para colocar os salários do funcionalismo público em dia! O Nordeste continua loteado, tanto quanto estava antes da Grande Marcha da Coluna Prestes. O revolucionário PT mostrou que aprendeu tudo o que seu "herói" cubano tinha a lhes ensinar: A cobiça pelo poder, pelo dinheiro e mesmo pela violência - não necessariamente nesta ordem.

Só rindo. A maioria deles - inclusive Lula, o Grande Líder - nunca sequer tocou numa arma de fogo. A arma que eles sabem usar bem é a caneta e a demagogia rasteira.

Em 2009, o então senador Cristovam Buarque disse a outro senador o que havia declarado domingo, 5 de abril, numa entrevista radiofônica: "A reação é tão grande hoje contra o Parlamento, que talvez fosse a hora de fazer um plebiscito para saber se o povo quer ou não que o parlamento continue aberto". Foi um escândalo há época, com os hipócritas de plantão ficando todos indignados.

O General Artur da Costa e Silval fechou o Parlamento com o Ato Institucional nº 5. O AI-5, sobrepondo-se à Constituição de 24 de janeiro de 1967, bem como às constituições estaduais, dava poderes extraordinários ao Presidente da República e suspendia várias garantias constitucionais. O AI-5 foi o instrumento que deu ao regime poderes absolutos e cuja primeira conseqüência foi o fechamento do Congresso Nacional por quase um ano.

Pergunto, qual a diferença, em termos de poder que há entre o AI-5 e as Medidas Provisórias em vigor? Poderá dizer o leitor: "As MPs precisam ser votadas pelo congresso." Pois então saiba que a MP que instituiu a moeda Real ainda não foi votada!

Pergunto novamente: O plebiscito sugerido por Cristovam Buarque - um dos petistas que não teve estômago para continuar na "militância" do partido - teria hoje resultado diferente? Não é preciso ser mago para saber que oito entre dez brasileiros volatilizaria o Congresso Nacional, se pudesse. Mas é uma pena que tão poucos brasileiros desconheçam que o outro poder - o Judiciário - é tão ou mais corrupto que o Legislativo!

Como se pode mudar um país onde a Casa que faz as leis é um antro de corrupção e a Casa que as executa, é ainda pior? E o terceiro poder? A Presidência da República? Ok. Pouparei o leitor de falar disso.

E que se enterre de vez essa vergonhosa "verba indenizatória". Quem precisa ser indenizado é a imensa maioria do povo brasileiro: as crianças, os enfermos, os idosos e as mães pobres e miseráveis.

Citem-me os críticos deste artigo, um só ditador do séc. XX ou XXI que não tenha ficado bilionário. De Bokassa a Idi Amim Dada, de Gaddafi a Sadam Hussein, de Hitler a Stalin, de Papa Doc a Pol Pot, de Pinochet a Kim Jong II, de Robert Mugabe a Bashar al-assad. E a lista vai longe!

Agora me apontem um só general da ditadura brasileira que tenha ficado rico. Vou clarear:

- Quando o Marechal Castelo Branco morreu num desastre de avião, verificaram os herdeiros que seu patrimônio limitava-se a um apartamento em Ipanema e umas poucas ações de empresas públicas e privadas.

- O General Costa e Silva, acometido por um derrame cerebral, recebeu de favor o privilégio de permanecer até o desenlace no palácio das Laranjeiras, deixando para a viúva a pensão de marechal e um apartamento em construção, em Copacabana.

- O General Emílio Garrastazu Médici dispunha, como herança de família, de uma fazenda de gado em Bagé, mas quando adoeceu não tinha dinheiro para pagar o tratamento e precisou ser tratado no Hospital da Aeronáutica, no Galeão.

- O General Ernesto Geisel, antes de assumir a presidência da República, comprou o Sítio dos Cinamonos, em Teresópolis, que a filha vendeu para poder manter-se no apartamento de três quartos e sala, no Rio.

- O General João Figueiredo, depois de deixar o poder, não aguentou as despesas do Sítio do Dragão, em Petrópolis, vendendo primeiro os cavalos e depois a propriedade. Sua viúva, recentemente falecida, deixou um apartamento em São Conrado que os filhos agora colocaram à venda, ao que parece em estado de lamentável conservação.

Isso numa época em que eles tinham o poder total e não havia sites divulgando suas gastanças. Foi a época de Itaipu, Ponte Rio-Niterói e do "Milagre Brasileiro" .

Você deve achar que sou louco, defendendo a ditadura militar. Nem uma coisa nem outra. Nem sou louco, nem defendo ditadura alguma. Tenho tanto horror às ditadutas quanto à demagogia. Mas também tenho horror à mentira histórica, que acabará por prevalecer quanto tiverem desaparecido todos os que testemunharam este período da história brasileira.

Como disse Carlos Chagas, o conceituado jornalista: "Erros e excessos foram praticados durante o regime militar, eram tempos difíceis. Mas mesmo assim, no reverso da medalha, foi promovida ampla modernização das nossas estruturas materiais".

Antes do Regime Militar, o Brasil era apenas uma republiqueta exportadora de matéria prima, com uma agricultura incipiente, uma indústria ridícula, sem tecnologia, sem mão-de-obra especializada e principalmente, sem perpectivas. Para se manter no poder, João Goulart, o Presidente há época flertou com o comunismo. A caserna assumiu o poder e o devolveu, e graças a isto não somos hoje uma Cuba, ou uma Coréia do Norte.

O paradoxal, e hilário, se não fosse trágico, é que o perigo que enfrentamos agora é ainda maior que a instalação do regime comunista no país. Desta vez vivemos uma "ditadura branca" apoiada pela Lei! Não há nada combinado, não há bandeiras, não há golpe. Mas há um acordo tácito entre todos os fascínoras que se escondem atrás das togas ou de cargos legislativos, fazendo com que todos se protejam mutuamente por trás de leis, medidas provisórias, promessas de campanha, liminares, estatutos, decretos, etc. de tal forma que o país não consegue avançar em suas instituições mais básicas, como a saúde e a educação.

Esta é, em minha opinião, o perigo real e imediato, que exército algum consegue extirpar, porque tudo acontece sob a égide da Lei. É tudo descaradamente imoral e aético, mas é legal!

Resta o poder do voto. Mas teríamos que ser suecos para votar com a consciência que a emergência atual do Brasil exige. Mas não somos. Somos apenas um povo que o poder - exercido agora pela "geração 60" - mantém cuidadosamente ignorante. A demagogia e a corrupção precisam desesperadamente da ignorância popular para sobreviver.

Convenhamos, pelo menos nesse aspecto, a "geração 60" - com seus heróis revolucionários, artistas "esclarecidos" e arautos da intelectualidade - está fazendo um trabalho primoroso!

* * *

*Nome de um livro de José Sarney

JB Xavier

Enviado por JB Xavier em 09/02/2012
Reeditado em 10/02/2012
Código do texto: T3488937
Fonte: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/3488937