segunda-feira, 22 de julho de 2013

O valor do jornalismo profissional

Opinião - Época - 22/07/2013

A reportagem publicada por ÉPOCA na última edição (790) que mostrava suspeitas de fraude em duas concorrências de R$ 1,2 bilhão promovidas pelo governo do Rio de Janeiro para a contratação de empreiteiras teve efeitos imediatos. Dois dias depois de a revista ter chegado às bancas, a Secretaria de Estado do Ambiente tratou de revogar as licitações, ainda que sob queixumes do secretário Carlos Mine. Um dos contratos visa à recuperação ambiental das lagoas da Barra, um dos compromissos olímpicos do governo do Rio. O outro destina-se a conter enchentes no noroeste do Estado, em municípios que vêm sendo castigados por desastres naturais provocados por chuvas.

Os indícios de conluio e formação de cartel na concorrência apresentados pela reportagem são veementes. Depois de ter sido informada de um arranjo para que o consórcio formado pelas empreiteiras OAS, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão ganhasse as obras de recuperação ambiental das lagoas, ÉPOCA publicou um anúncio cifrado nos classificados de um jornal do Rio, em que antecipou o resultado da licitação. A reportagem mostrou ainda que não houve uma verdadeira competição para reduzir o custo de execução das obras, como esperado de uma concorrência pública.

Diante das suspeitas e da importância dos projetos para a população do Rio de Janeiro, a revogação das concorrências foi correta. Mas o significado da decisão não se esgota aí. Ela mostra a importância do jornalismo profissional, que segue critérios rigorosos de investigação e publicação das notícias, como um verdadeiro fiscal do poder. No momento em que as instituições são desafiadas por manifestantes o jornalismo profissional de qualidade, com base no interesse público, se inscreve entre aqueles valores permanentes de que uma sociedade democrática não pode prescindir.

Fonte: Revista Época, 22/07/2013, pág.10 - OPINIÃO

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